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O Papel da família na prevenção de Violência

da Revista Universo



A psicóloga Ana Carlota Pinto Teixeira, durante uma palestra na Canção Nova, defende que para combater a violência é necessário o resgate da família.

De que forma a violência tem influenciado a vida das pessoas?

Ana Carlota Teixeira -
Ela tem assustado muito as pessoas por estar de forma generalizada na sociedade. A agressividade é uma força natural, é algo inerente ao ser humano. E essa agressividade como força é importante, em função de que todos nós precisamos dessa força para viver, lutar, crescer e batalhar pelas coisas. Então, é uma força natural que deve ser elaborada, mas quando é no sentido exagerado e não elaborado, ela sai em forma de violência. Essa violência acaba, portanto, destruindo o outro e impedindo essa convivência em sociedade. Isso acaba assustando tanto pela preocupação de cada um ter que elaborar a sua agressividade como pelo fato de ficar exposto à agressividade do outro. Isso faz com que fiquem mais assustados e desacreditados na própria vida, gerando uma certa insegurança, até em viver, sair na rua, cuidar da própria casa ou dos filhos. Isso já é uma descrença em nosso sistema, de certa forma.

Quais fatores seriam as causas das pessoas se tornam violentas?

Ana Carlota Teixeira -
A violência é conseqüência da falta de uma educação afetiva em algum momento na infância, ausência de representantes adequados da lei, da moral. A agressividade natural vai sendo elaborada durante o desenvolvimento da pessoa a partir da relação com os pais, que são as autoridades da infância, além dos avós, da escola, da sociedade e da Igreja e, na medida em que essa sociedade não assume o papel de autoridade, contribui para que essa agressividade se transforme de modo inadequado e torna impossível a vivência em comunidade.

Fale um pouco de como as pessoas se tornam doentes devido à violência.

Ana Carlota Teixeira -
Da mesma maneira que essa agressividade é inerente ao ser humano, existe medo também em cada um de nós. Outros sentimentos não tão positivos existem dentro de nós, como a inveja e o ciúme, contudo a partir do nosso amadurecimento, a expectativa é que consigamos lidar com eles de maneira mais elaborada. O que significa isso? Por exemplo, eu posso sentir raiva de alguém, mas não chegarei ao ponto de matá-la. Eu não preciso concretizar essa minha agressividade, contudo posso lidar com esse sentimento de um outro jeito e ser capaz de perdoar, de reparar. Também sentimos medos de não nos sentirmos capazes de cuidar da nossa agressividade. Assim, a violência faz com que fiquemos assustados e inseguros como se também não fôssemos dar conta. Por exemplo: uma criança sente raiva, porém ela precisa de garantias que os pais não vão deixá-la matar ninguém e não vai deixar concretizá-la. Ela precisa também ter a confiança de que os pais estão ajudando a cuidar dos seus sentimentos. E parece que, nós adultos, ficamos como que crianças, assustados com o que podemos fazer, porque não tem ninguém para nos impedir. Além do medo de não dar conta de nos impedir. E estamos num momento social em que as pessoas não podem contar com essa rede de autoridades, porque as nossas fontes de autoridade são perversas também e não estão dando conta de pôr limites claros, adequados e justos. Então, isso gera muita insegurança e contribui para que as pessoas fiquem doentes mesmo, isoladas e não saibam muito bem como lidar com isso. Ficam a mercê do medo e a mercê do medo, da violência de outro.

Quais seriam as formas de se conter a violência na sociedade de hoje?

Ana Carlota Teixeira -
Acredito que cada um pode fazer um pouco e que a família é muito importante nesse sentido. É preciso que os pais saibam respeitar o desenvolvimento infantil, ou seja, em cada fase, a criança demonstra um nível de agressividade próprio e normal e que é saudável. Às vezes, os pais confundem e consideram que a criança seja violenta, naquele momento. Por exemplo, para uma criança de 2 anos é normal ser agressiva, brigona, egoísta. E se os pais conseguem compreender isso, serão capazes de respeitar, educar e ajudar a criança a conter e lidar com os seus sentimentos. Em diversos casos, os pais são mais assustados que os filhos e acabam sendo mais agressivos, querendo educar antes da hora. A família é muito importante no sentido de dar limites à criança sobre o que é dela ou do outro. E esse é um processo difícil mesmo, pois envolve afetos e emoção o tempo todo e, às vezes, os pais também estão assustados com as próprias emoções, mas eu sempre acredito na prevenção, na educação da família. A escola e a mídia também exercem um papel muito importante. É preciso educar porque a agressividade é natural, mas para não ser transformada em violência, a criança precisa ser educada com afeto e com limites.
Redação

Redação

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