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Em discurso de 1º de maio, Dilma faz aceno à esquerda e anuncia medidas para 'aumentar custo' para Temer




'Querem chegar ao poder sem voto, em uma eleição indireta sob o disfarce de impeachment', disse Dilma.

Imagem: Reprodução / BBC

Em meio à crise política e ao avanço do processo de impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff aproveitou as manifestações dos trabalhadores em comemoração pelo 1º de maio para fazer novos anúncios em seu governo.

Dilma confirmou o reajuste de 9% no benefício do Bolsa Família, pago a milhões de famílias de baixa renda no país, e também anunciou a correção de 5% na tabela do imposto de renda a partir do ano que vem.

"Estamos autorizando um reajuste no Bolsa Família que vai resultar em um aumento médio de 9% para as famílias. Essa proposta não nasceu hoje. Ela estava prevista lá em agosto de 2015 quando enviamos o orçamento par ao Congresso. Essa proposta estava prevista, e diante do quadro atual, tomamos medidas que garantem aumento na receita neste ano e nos próximos para viabilizar esse aumento no Bolsa Família. Tudo isso sem comprometer o cenário fiscal", anunciou a presidente.

As medidas foram comemoradas pelo público que estava no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, acompanhando o discurso da presidente. Para cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, os anúncios deste domingo foram parte de uma estratégia para "aumentar o custo político do impeachment" e dificultar um possível governo do atual vice Michel Temer no futuro.

"Do ponto de vista político, as medidas adotadas hoje estão em choque com o que o governo tem mostrado até hoje. Então o primeiro objetivo a curto prazo desses anúncios é aumentar o custo politico da mudança de governo para o Temer", afirmou Rafael Cortez, cientista político da Consultoria Tendências.

"Ela colocou duas propostas que deverão ser medidas provisórias e que possivelmente serão vetadas pelo Temer por causa da situação econômica. É uma tentativa de criar dificuldades para o Temer e reconquistar a esquerda para, quem sabe, reascender ao poder em 2018."

Para o cientista político da PUC-Rio, Ricardo Ismael, as medidas anunciadas neste Dia do Trabalho são "bombas" que tentam "inviabilizar o governo Temer". "Isso não vai cair na conta do governo dela, vai cair no governo Temer. Ele terá de enfrentar além da dificuldade já existente na economia brasileira, essas 'bombas' que atrasariam o funcionamento do governo."

Além do anúncio sobre o Bolsa Família e o imposto de renda, Dilma citou em seu discurso também a prorrogação do programa Mais Médicos por mais três anos, a contratação de 25 mil moradias no Minha Casa Minha Vida e a ampliação da licença paternidade de 5 para 20 dias.

'Resgate do PT'

Desde que assumiu o segundo mandato, Dilma foi alvo de muitas críticas da esquerda pelas ações adotadas que iam de encontro ao que ela própria havia prometido na campanha eleitoral. No discurso para as centrais sindicais e os trabalhadores neste domingo, porém, ela tentou resgatar o protagonismo do PT com a esquerda reforçando as "conquistas sociais" que vieram no período de governo do partido.

"É uma forma de tentar resgatar de fato a antiga plataforma do PT. Quando o impeachment ganhou força, a estratégia do partido foi mobilizar a esquerda. As medidas anunciadas hoje dão um pouco de materialidade para a esquerda e tentam reconquistá-la para garantir que o PT não perca seu protagonismo com ela nas próximas eleições", analisou Rafael Cortez.

Além do anúncio das medidas, Dilma aproveitou o discurso para criticar o que chama de "golpe" contra o seu governo.

"É um golpe contra a democracia, contra as conquistas sociais. Querem chegar ao poder sem voto, em uma eleição indireta sob o disfarce de impeachment”, afirmou. "Eu vou resistir, vou lutar até o fim."

Em meio a gritos de "Fica Querida" e "Fora Cunha", Dilma recebeu o apoio de quem estava no centro de São Paulo acompanhando a manifestação das centrais sindicais.

'Nada a comemorar'

Para Ricardo Ismael, no entanto, a falha da presidente foi não ter tocado no principal problema que o país vive atualmente na sua visão: o desemprego. Segundo os dados mais recentes do IBGE, cerca de 11,1 milhões de brasileiros estão desempregados - o que equivale a 10,9% da população economicamente ativa.

"Chegamos ao 1º de maio sem nada para comemorar. E entre todas essas medidas anunciadas pela Dilma, nenhuma delas diz respeito a esse, que é o principal problema do Brasil atualmente. O desemprego está batendo recordes. Ninguém sabe quando o Brasil vai voltar a crescer", disse.

"É uma questão paradoxal. O que aliviaria hoje seria um discurso da Dilma sobre a questão econômica e do desemprego. E isso não aconteceu", concluiu.
Redação

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