MÁRCIO OLIVEIRA
escreve a coluna SAÚDE MENTAL, da REVISTA UNIVERSO
O medo constitui uma das emoções básicas do ser humano. Pode paralisar mas está também ao serviço do instinto de sobrevivência. Não posso imaginar o que seria vivermos sem medo! Certamente atravessaríamos ruas sem olhar para os lados e a nossa esperança de vida encurtava significativamente. Ao longo do nosso desenvolvimento, assiste a uma mudança no tipo de medos. Durante a infância, tememos alguns animais, o escuro e, também, os estranhos. Quando vamos para a escola, imaginamos que podemos ser abandonados e isso acorda uma profunda angústia.
Os filhos de pais divorciados temem perder o carinho de um dos pais e em qualquer família, há sempre uma criança que receia que os pais não gostem tanto dela como do irmão. Em adultos, temos medo de ficar aquém das expectativas que os nossos pais depositaram em nós e que o nosso trabalho não seja convenientemente apreciado e valorizado. Se atingimos o sucesso, estamos sempre receosos de um dia o perder e do sofrimento que tal acarreta, já que a perda de status é algo bastante dificil de contornar. Quantas pessoas conhecemos, que continuam a manter um nível elevado de vida, apesar de estarem sem emprego ou das dívidas se acumularem? Dificilmente assumem o fracasso. Não será por acaso que muitos suicídios perpetrados por homens se devem a dívidas acumuladas devido a negócios mal sucedidos.
Outros, porém, transformam o medo no seu oposto e fazem fugas para a frente. Abandonam para não serem abandonados, tornam-se frios e insensíveis para não serem tocados mais profundamente, optam por praticar muitos esportes radicais, porque isso dá a sensação de imortalidade. O medo faz com que uns se tornem mais fortes, já que estimula a procura de estratégias. Mas há depois todos os outros que se deixam abater por ele. Cruzam os braços e desistem antes mesmo de tentar. Mantêm no seu cantinho, infelizes mas protegidos. Passam a vida evitando frustrações quando, no fundo, no fundo, é a sua atitude que mais os frustra. Nunca ousam ir mais além já que implica correr riscos. Temem ouvir um “não”, porque isso abanaria a estrutura e têm medo de depois não conseguirem reequilibrar emocionalmente.
Assim, a alternativa é ficarem na dúvida e, um dia mais tarde, podem sonhar que, se tivessem sido capazes de arriscar talvez a resposta tivesse sido “sim”. E isso serve de consolo.
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